Ecossistema de inovação como propulsor do desenvolvimento local

21 de outubro de 2019

Recentemente li um relatório produzido pela LatAm Startups (https://www.latamstartups.org/), com o apoio de uma pesquisadora de Singapura, Thaddea Chua, tendo colaboração de um brasileiro que há muito tem dedicado seus esforços a entender e a estudar o Ecossistema Empreendedor no Mundo, Rafael Pinto. Denominado Latin America Entry Points Startup Ecosystem- Brazil 2018*, o relatório apresenta um estudo mostrando o impacto dos ecossistemas no próprio desenvolvimento de um país.

Já de início faz uma provocação com o tema: “Brasil. Pessoas apaixonadas, possibilidades infinitas” e inicia com uma reflexão que o País é “vasto em terra e recursos e pode ser uma potência líder regional e globalmente. Apesar de seus problemas econômicos e políticos, reformas constantes e o espírito empreendedor do povo têm mantido o Brasil no caminho do progresso em busca de todo o seu potencial. Aqui está um olhar mais profundo sobre o maior país da América Latina”.

O relatório mostra alguns dados importantes para uma análise do impacto dos ecossistemas no desenvolvimento do território (local, regional). Uma das pesquisas pontua o desenvolvimento das pessoas, no qual o Brasil, comparado com outros países da América Latina, ocupa o segundo lugar entre os principais mercados emergentes em termos de crescimento anual de talentos (5,6%). No entanto, o estudo descreve que existe atualmente uma lacuna de qualificações na força de trabalho.

Isso apresenta oportunidades maduras para a entrada de empresas EdTech (Empresas de Tecnologias para Educação), que desde então se concentraram em melhorar a qualidade da educação e treinamento de habilidades técnicas, como codificação, gerenciamento de dados e outros.

Em outro trecho do estudo relata que na década passada os brasileiros desfrutaram de um notável aumento no poder de compra e consumo. Décadas de crescimento econômico e políticas públicas reduziram a porcentagem da população brasileira em extrema pobreza para 7.4 em 2018. Desde 2012, mais da metade dos brasileiros foram classificados como classe média, expandindo o mercado doméstico e oferecendo aos investidores uma base de clientes em potencial significativa.

Ainda apresenta que com o crescimento do Status Socioeconômico da população impacta-se em alguns indicadores notáveis como a taxa de penetração de internet estimada em 66% (123 milhões) em 2017, transformando o Brasil no maior mercado de internet da América Latina e quarto do mundo. Não só isso, a penetração de telefones inteligentes subiu para mais de 40% em 2018. O uso mensal de internet no Brasil foi em média de 25,7 horas por usuário em 2016, muito acima da média regional de 18,6 horas. O País é destaque também no uso de redes sociais.

Na sequência, o estudo apresenta um paralelo com o desenvolvimento econômico, destacando que o Brasil hoje é muito diferente do Brasil do início dos anos 1970, quando o país foi atingido por uma série de crises da dívida internacional. O País tem crescido dez vezes (em termos de PIB real) para ser classificado como a 9ª maior economia do mundo. Há avanços, no entanto o Brasil foi atingido pela pior recessão de sua história entre 2015 e 2016, agravada pelo crescente desencanto político, preços baixos das commodities, restrições ao crédito e aumento das taxas de juros.

Desde então, amplas reformas econômicas para impulsionar o investimento estrangeiro e medidas para reduzir os gastos do governo foram recompensadas. Em 2017, a economia retomou sua trajetória de crescimento, tirando oficialmente o País da recessão. Mas com a piora de indicadores em 2019, o risco de dias difíceis retorna, deixando os investidores em compasso de espera. Diante desse cenário entra em cena e vem se fortalecendo a cada ano um novo modelo de pensar.

Ou como é comumente expressado mudar o”mindset”, capaz de “pivotar” a forma como sempre foram estruturados os modelos de negócios, com um novo padrão econômico, de se fortalecer em rede, com apoio a novos negócios, com forte apego à tecnologia e inovação, que tenha uma capacidade de “escalonar” rapidamente e gerar oportunidade de “monetização” capaz de transformar uma ideia em um negócio virtuoso rapidamente.

Para dar conta desse novo modelo de negócios, eclodiu no mundo, América Latina, Brasil e na região Oeste do Paraná o conceito de fortalecer o ecossistema empreendedor e de inovação, que seja capaz de apoiar na inércia do desenvolvimento econômico que vivemos. O ecossistema de startups latino-americano está apenas começando a transformar a maneira como as pessoas o enxergam, com aumento do número de startups fazendo ondas nos mercados internacionais e criando um impacto positivo nas comunidades e empresas locais.

Soluções inovadoras de startups implementadas nas diversas regiões da América Latina lidam com problemas envolvendo transações financeiras, educação e agricultura que vêm impedindo a prosperidade por gerações. O estudo aponta ainda que o ecossistema de startups do Brasil é vibrante, com interesses, ideias e investimentos. Muitas estão esculpindo nichos para si no mercado doméstico ou foram apoiadas por importantes capitalistas de risco. Ao mesmo tempo, investidores tradicionais, empresas e governos demonstram interesse na participação de ecossistemas por meio de oportunidades de orientação, financiamento e parceria.

Com o amadurecimento do ecossistema e um promissor mercado a ser capturado, grandes players internacionais de mercados estabelecidos como os EUA e a China entram nesse cenário, criando sedes e financiando centros de inovação como o campus do Google em São Paulo. Quando estendemos o tema para o Paraná e Oeste, vemos a mesma onda sendo propagada com a estruturação de ecossistemas em pleno desenvolvimento, com destaque a movimentos iniciados em Curitiba, Pato Branco, Londrina, Maringá, Cascavel e avançando a outras microrregiões.

Destaco aqui o potencial de criação de uma rede de aceleradoras, iniciando pela Acic Labs em Cascavel, apoiada pela Associação Comercial e Industrial de Cascavel e Sicoob, para atender a necessidade real e futura de seus quase 3,7 mil associados, impulsionando uma nova forma de enxergar oportunidades de negócios capazes de criar uma ruptura (pivotar) o atual modelo de negócio em que o empresário atua, atraindo inovação, tecnologia, novo jeito de produzir, ou vender, ou entregar, ou de se relacionar com os clientes, que a cada dia são mais exigentes.

Essa rede de aceleradoras poderá, no futuro, integrar a Inova Labs criada recentemente em Curitiba pela Faciap (Federação das Associações Comerciais do Paraná) e com a Evoa Aceleradora de Maringá, apoiada pela ACIM – Associação Comercial e Empresarial de Maringá e Sicoob. Com essas três aceleradoras e outras que venham a surgir será possivel estruturar uma rede capaz de alçar voos ainda mais altos, pensar em soluções e ideias conjuntas que conecte as startups em aceleração a grandes centros do país e mundo.

Buscar-se-á então investidores mais robustos, como Angels Capital, Venture Capital, e mentorias que agreguem valor às ideias e conceitos de negócios propostos pelos empreendedores. Bem como atrair para o Paraná projetos e empreendedores que queiram se aproximar do Aceleradoras que tenham capacidade de cumprir seu papel que é de agilizar o tempo/espaço: ideia-negócio-sucesso.

A Acic Labs em Cascavel esta no início de suas atividades já com três startups sendo aceleradas e tem como objetivo fechar o ano de 2019 com seis empresas em etapa de suporte. Em 2020 deveremos ter encaminhado algumas dessas e acelerar mais 10 a 15 startups em editais a serem lançados para que empreendedores possam apresentar seus projetos e disputar as vagas para que recebam apoio.

O que tem haver tudo isso com o desenvolvimento econômico de um local ou território? Absolutamente tudo! Vivemos um momento econômico em que as empresas tradicionais estão passando por um grande abalo por conta da mudança de hábitos de consumo e de exigências do consumidor, que já não é mais o mesmo de 10, 20 anos atrás.

Portanto, para mudar o cenário econômico, além da preocupação com o setor convencional, que por muito tempo ainda terão resultados, o foco deve ser em desenvolver, atrair e incentivar projetos que tragam novos conceitos, vinculados à inovação, conectadas a esse novo consumidor que não quer somente receber o produto. Ele quer receber uma experiência, viver uma jornada única em que comprar o produto ou serviço passará ser uma consequência e não a finalidade da empresa.

Isso exigirá das empresas do futuro um repensar em toda a sua estrutura, desde a alta direção até uma nova etapa que sequer é compreendida pela maioria das empresas, que é medir o sucesso do cliente com o uso de seus serviços o produto. Esse sucesso garantirá a esse cliente repetir a experiência e relatar a outros para que comprem de você. Sem esse foco, empresas não crescerão e não surgirão novas empresas com base tecnológica. Logo, virão as consequências: menos empreendedores, menos renda, menos tributos, menos desenvolvimento.

Temos saída? Sim! E o foco é o empreendedorismo e inovação. Nós estamos fazendo nossa parte… participe desse movimento.

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Carlos Guedes, bacharel em Ciências Contábeis, especialista em Administração Estratégica, Marketing e em Tecnologias de pequenos negócios; Consultor e Instrutor de programas focados em Gestão estratégica, Liderança, Empreendedorismo e inovação. Co-Founder da Acic Labs – Aceleradora e Hub de inovação em Cascavel-PR. Partner das empresas: Fenor Consultoria – Argentina e Diretor da Nexus Desenvolvimento Humano. Atua em atividades associativas como Diretor de Comunicação Social da Acic, Vice-Presidente para Planejamento Estratégico da Faciap.